quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Poema Jet Lagged

Viajar para que e para onde,
se a gente se torna mais infeliz
quando retorna?
Infeliz e vazio, situações
e lugares desaparecidos no ralo,
ruas e rios confundidos, muralhas, capelas,
panóplias, paisagens, quadros,
duties frees e shoppings…

Grande pássaro de rota internacional
sugado pelas turbinas do jato.

E ponte, funicular, teleférico, catacumbas
do clube do vinho, sorbets, jerez,
scanners, hidrantes, magasin d’images et de signes,
seven types of ambiguity,
todas as coisas perdem as vírgulas que as separam
explode-implode um vagão lotado de conectivos
o céu violeta genciana refletido
na agulha do arranha-céu de vidro

Mas ficar para que e para onde,
se não há remédio, xarope ou elixir,
se o pé não encontra chão onde pousar,
embora calçado no topatudo inglês
do Dr. Martens

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Ícaro sobre as chamas (Dance of Days)

Caminha em frente
e protege o rosto do vento
que cega e trás memórias
com gosto de câncer e lágrimas.
Quem me dera pudesse ele me levar
pra longe agora que nada existe aqui
além da doença faminta no ar.
A grande união se desfez,
mas não me deixe outra vez
queimar acreditando que nada iria ferir estes
olhos, cansados de sangrar
por todas vezes que espadas
e milagres tornaram meu vinho em veneno para ratos.
ícaro segue rumo ao sol, mas não pode confiar em suas asas
Enquanto nos porões destas fábricas
nosso suor move as máquinas,
a fumaça cinza apaga o sol,
e então saímos pra recolher
os restos por baixo da fuligem.
Por favor não me deixa ver que nós trocamos
nosso sangue por migalhas e que não há mais abrigo
pra se proteger agora que a noite não tem fim.
Segura forte minhas mãos e diz
que amanhã vamos acordar
e nosso leito não vai estar tão sujo e frio...